A diferença pode ser relacionada a diferenças hormonais e de glândulas sebáceas
Homem, com histórico familiar de acne e que desenvolveu a doença em sua forma grave. Esse é o perfil de quem está mais predisposto a desenvolver cicatriz de acne, segundo estudo publicado em junho, financiado pela National Natural Science Foundation of China, publicado no periódico Skin Research & Technology e que revisou 37 pesquisas científicas.
A prevalência dessas cicatrizes chega a ser quase duas vezes maior em casos intensos da acne se comparado a quadros leves. No conjunto de estudos, essa prevalência é 58% em homens e 46% em mulheres – a diferença pode ser relacionada a níveis distintos do hormônio andrógeno e glândulas sebáceas, que levam a maior intensidade da acne e portanto a mais cicatrizes potenciais no público masculino. Os pesquisadores também encontraram pistas de que há um fator genético na possibilidade de apresentar cicatriz de acne, mas dizem que mais pesquisa é necessária a respeito do tema.
“Quando um estudo de revisão mostra que alguns grupos são mais propensos a desenvolver cicatriz de acne, isso serve de parâmetro para evitar, nesses pacientes, um comprometimento maior da acne”, diz à GQ Brasil Dr. Abdo Salomão Jr., Doutor em Dermatologia pela Universidade de São Paulo (USP) e sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
“Homens, que desenvolvem a doença na forma grave e tem histórico familiar com a condição devem buscar ajuda dermatológica e iniciar o tratamento o mais rápido possível, a fim de evitar a formação de cicatrizes. Para esses pacientes, temos que ter um olhar mais atento e ter um acompanhamento mais próximo”, explica.
O estudo de revisão joga alguma luz sobre o que leva pacientes a formarem essas marcas na pele, assunto ainda cercado por incertezas. Há hipóteses, por exemplo, de que a duração da acne, o estilo de vida, comportamentos como espremer as espinhas e recaída da acne, todos possam cumprir um papel na probabilidade das cicatrizes.
No entanto, os resultados reforçam que, ao contrário do que se defendia anteriormente, o tratamento o mais rápido possível pode ser benéfico, em especial para certas populações. “A acne sempre foi muito relacionada aos adolescentes, pelas mudanças hormonais, por isso antes havia o entendimento de que era melhor iniciar o tratamento quando as mudanças hormonais da adolescência já tivessem passado, o que não se mostrou a melhor opção, principalmente porque as cicatrizes de acne poderiam se formar e causar uma sequela difícil para o paciente”, diz Salomão Jr.
Essas marcas são rastros deixados pelas próprias espinhas que alteram a textura da pele – seja através de depressões quanto relevos na superfície da tez. \”(Elas) invariavelmente são profundas, pois as glândulas das quais se originam as espinhas estão na derme profunda. Então, as fibras da pele têm sua arquitetura comprometida pelas espinhas\”, explica o Dr. Abdo Salomão
O engenheiro Leonardo Conti, 28, se deparou com o problema das cicatrizes depois de enfrentar a acne por nove anos e, por oito meses, um tratamento com isotretinoína (Roacutan) que descreve como “muito difícil”. “Passei em muitos dermatologistas e nunca me receitaram o medicamento. Sempre tive a autoestima muito baixa e, além disso, doía muito meu rosto nas regiões com espinhas. Era desconfortável. O período de oito meses tomando o medicamento foi muito difícil, tive que ter acompanhamento psicológico”, conta Leonardo. Com o fim da acne, ficaram as marcas no rosto.
“As cicatrizes com o tempo começaram a me incomodar”, diz. “Sempre me comparava muito olhando a pele perfeita dos outros”, acrescenta o engenheiro, que costumava deixar a barba crescer para esconder parte dessas sequelas.
O caso de Leonardo é o chamado atrófico, o mais comum e que envolve o afundamento da pele. “As pessoas viam os buracos na minha pele e isso me incomodava. Em fotos, dependendo da luz, sempre ficavam muito nítidas as cicatrizes”, lembra.
“A acne, apesar de não envolver maiores riscos para a saúde sistêmica do organismo, tem um impacto psicológico significativo, mesmo quando leve, e afeta a qualidade de vida do paciente e a autoestima, além de poder gerar quadros de ansiedade e até depressão. Por isso, não deve ser subestimada e sempre deve ser tratada”, explica a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
O tratamento pode incluir cremes com retinóides, ácido glicólico e vitamina C (que reduzem cicatriz de acne superficiais e melhoram a qualidade da pele), além de procedimentos como microagulhamento, peelings químicos e laser. E é importante ter cautela com o que se come. “Por mais que você já tenha passado pelo tratamento convencional da acne, elas podem voltar e o que dificulta a cura é a alimentação de alto índice glicêmico, porque toda cicatrização ruim é advinda de um processo inflamatório interno, crônico, do paciente que coexiste com questões como: o excesso de produção de sebo, o estresse, o sono\”, diz a farmacêutica Patrícia França, gerente científica da Biotec Dermocosméticos.
Fontes
Dr. Abdo Salomão Jr.: Doutor em Dermatologia pela USP (Universidade de São Paulo). É sócio Efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Membro da American Academy of Dermatology (AAD), Sociedade Brasileira de laser em Medicina e Cirurgia e do Colégio Ibero Latino Americano de Dermatologia;
Dra. Paola Pomerantzeff: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), tem mais de 10 anos de atuação em Dermatologia Clínica;
Patrícia França: Farmacêutica e gerente científica da Biotec Dermocosméticos.